De modo um tanto tímido, acabrunhados, outros já um pouco mais à vontade, homens, mulheres sozinhas e outras com crianças, idosas, de meia idade e até pessoas mais jovens vão se aproximando de um espaço reservado há anos embaixo da rampa do salão da Igreja Catedral, em União da Vitória, para receberem uma oferta que para muitos é valorosa no seu dia a dia.

A oferta do sopão, com um pedaço de pão é oferecido por oito pessoas voluntárias que toda segunda-feira, desde as 8h30 da manhã começam a preparar o alimento, 100% por cento doado por supermercados, prefeitura e pessoas físicas.

Às 11h30 um grupo expressivo de pessoas humildes, carentes de alimento, alguns que andam pelas praças e até dependentes de alcoolismo, vão preenchendo o espaço de baixo da rampa, que com alguns bancos acomodam aqueles que ali se alimentam. Outros, em pé mesmo, saboreiam a sopa preta que é servida em potes feitos com caixinhas de suco. Antes do alimento físico, padre Silvano Surmacz, pároco da Catedral, convida todos para o alimento espiritual. “Vamos fazer nossa oração, agradecendo a Deus pelos alimento que recebemos e pedindo proteção para nossa vida”, motiva o padre junto aos demais.
S.M.P, de 69 anos, já conhecido no grupo, e que luta há 10 anos contra o alcoolismo, agradece muito pelo trabalho realizado pelo grupo no espaço da Igreja Catedral. “É um trabalho maravilhoso e eu gosto muito da sopinha delas. Todos aqui são maravilhosos, conheço muitos dos que vem aqui, e quase toda segunda eu venho buscar o alimento”, relata ele satisfeito.
Sentada no banco, ao lado de uma vizinha, A.O, de 67 anos, moradora de um dos bairros carentes de União da Vitória, há cinco anos vem garantir o seu almoço no sopão da Catedral, e fala que sente-se ali muito bem tratada. “É muito gostosa a sopa que elas fazem aqui, tem outros lugares que fazem uma ação parecida, mas sempre me senti muito bem aqui, por isso venho toda segunda”, diz a senhora, contente.
Agradecendo pela oportunidade que a Igreja concede do espaço para propiciar tal caridade, uma das voluntária do sopão diz que a ação já existe há 20 anos no local e que servem a quem chegar. “Esta ação já acontecia desde a época do padre Levi Godoy, ainda no antigo pavilhão da Catedral. Naquela época as pessoas eram também colocadas sentadas às mesas. Hoje tem lugares na cidade que fazem um cadastramento destas pessoas para saberem mesmo das necessidades de cada um, mas nós pedimos uma Assistente Social da prefeitura para fazer este trabalho, mas até hoje ninguém apareceu”, relata a senhora.
Uma das colegas da ação diz que os beneficiados sempre agradecem muito, pois para alguns é a única refeição do dia. “Fazemos uma média de 350 pratos de sopão entre os que se alimentam aqui e os que levam para casa. Muitos querem garantir o alimento do outro dia. Alguns voluntários até carne acabam trazendo e é interessante que mesmo dependendo de doações, o alimento nunca falta”, testemunho uma das mulheres, há dez anos envolvida na ação.
Atuando hoje em Paulo Frontin, padre José Levi Godoy confirma que a ação iniciou em 1998 e teve duas experiências positivas desta ação quando ainda atuava como padre em Bituruna. “Quando vim de Birutuna decidi em fazer esse gesto aqui, pensando em diversas pessoas que por inúmeras situações não podiam ter uma refeição no almoço, então convidei na época a senhora Dorilda e mais algumas mulheres do Movimento do Apostolado da Oração para fazermos essa obra”, conta o padre. “No começo ficávamos ali conversando com essas pessoas e ouvindo suas histórias. Eu sempre dizia: Não iremos acabar com a fome no mundo, mas quantos almoço garantiremos no passar dos anos?!”, completou o padre.

Fortalecidos e animados pela refeição recebida, após algumas conversas entre os conhecidos, aos poucos cada um vai voltando à sua realidade de vida, esperançosos que o futuro seja melhor e que essa necessidade seja para eles passageira.
Texto e fotos: Pe. Marcelo S. de Lara
Assessor da Pascom