Continuando nossos artigos que visam apresentar a relação irrenunciável e necessária entre a catequese e a liturgia e vice-versa, desta vez trazemos o sentido e a importância do Rito de Entrega da Oração da Ave-Maria e do Símbolo da Fé.
No itinerário catequético vivenciado até aqui, na primeira etapa preparatória para a recepção da primeira Eucaristia foram entregues a Bíblia e a Oração do Senhor. Já na segunda etapa os dez mandamentos. Agora, chegou a vez de entregar uma das orações mais populares de nossa fé católica: a Ave-Maria.
Entrega da Ave-Maria
É importante que os catequizandos aprendam desde cedo a importância de Maria para a nossa fé. Foi Deus que quis escolher uma criatura humana para torna-la mãe do seu próprio filho, Jesus Cristo. Não foi Maria que quis fazer-se importante, mas ao contrário, Deus a elegeu dentre todas as criaturas: “olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48) e ela respondeu com disponibilidade e fé: “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

O que precisa ser deixado muito claro é que Maria não quer ocupar o lugar de Deus e muito menos parecer Deus. Ela quer nos ensinar a maneira certa de como toda criatura deveria colocar-se diante de Deus. Uma vez compreendido isso, evitar-se-á todo tipo de fanatismo ou idolatria possível em torno daquela que quis unicamente nos ensinar a como ser de Deus e nunca igual a Ele.
Compreendido isso, a espiritualidade mariana precisa ser amplamente desenvolvida na vivência cristã dos catequizandos que se preparam de modo particular para receber pela primeira vez a Eucaristia, presença real do Filho de Maria e Filho de Deus entre nós.
A espiritualidade mariana é um universo fascinante. O objetivo desta fé é proporcionar a todo fiel católico o encontro com Maria humana, humilde, simples, serviçal, atenta, feliz e totalmente disponível a Deus e ao próximo. Maria é modelo de tudo aquilo que é bom. É adentrar num mundo sem a existência do pecado e todas as suas consequências.
É por isso que Maria é considerada o modelo, a imagem da Igreja. Ela serve de inspiração para todo o nosso viver cristão. Pensar numa experiência de vida cristã sem Maria, seria deixar fora aquela que é a síntese de todas as virtudes possíveis de nosso agir cristão. Assim se expressa o Concilio Vaticano II, em um dos seus principais textos que falam sobre a Igreja: “Em vista dos méritos de seu Filho foi (Maria)redimida de um modo mais sublime e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada com a missão sublime e a dignidade de ser Mãe do Filho de Deus, e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo…e por causa disso é saudada também como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e caridade. E a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filiar como mãe amantíssima” (Compêndio do Vaticano II: Constituição dogmática sobre a Igreja: Lumen Gentium (Luz dos Povos), § 53/141, p. 104)
Desta maneira compreende-se a importância desse rito de entrega. Fará lembrar a toda a comunidade, juntamente com os catequizandos, a beleza de nossa devoção mariana, inspirando-nos a viver como ela, isto é, tendo atitudes de fé, de serviço, de caridade e generosidade. Assim estaremos incentivando os catequizandos a terem sempre Maria como modelo maior de vida cristã e também companhia certa e inseparável daquela que é nossa mãe, tal como quis Jesus: “disse à sua mãe: Mulher, eis o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis tua mãe” (Jo 19, 26.27).
Entrega do Símbolo da Fé
Chega o momento em que os catequizandos estão em condições de receber o Símbolo da Fé, em outras palavras, terem claro qual é a sua fé, em que de fato cada um deposita a sua confiança. Cada catequizando terá em mãos o motivo de sua esperança, a referência através da qual ele vive aquilo que vive. Ser-lhe-á entregue o motivo pelo qual ele se deita e se levanta em cada dia de sua vida. Essa entrega está prevista para a 1ª etapa de preparação para o sacramento da Crisma.

É importante que o catequizando compreenda que a fé é sim um ato profundamente pessoal e comunitário. De um lado, cada um responderá pessoalmente a Deus, que estabelece uma relação para com cada um de nós. De outro, todos nós que respondemos e nos confiamos a este Deus, fazemo-lo de modo comunitário.
Sendo assim, a comunhão na fé tem necessidade duma linguagem comum da fé para que possamos pronunciá-la e anunciá-la numa confissão de fé comunitária. Desde as origens, a Igreja apostólica exprimiu e transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e normativas para todos (cf. Rm 10,9; 1Cor 15,3-5; etc.). Mas bem cedo a Igreja quis também recolher o essencial da sua fé em resumos orgânicos e articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo.
Profissões de fé; Creio; Símbolos da fé, o que é?
A estas sínteses da fé chamamos de «profissões de fé», porque resumem a fé professada pelos cristãos. Chamamos também de «Credo», pelo fato de normalmente começarem pela palavra: «Creio». E igualmente as chamamos de «símbolos da fé», porque a palavra grega «symbolon» significava a metade dum objeto partido (por exemplo, um selo), que se apresentava como um sinal de identificação. As duas partes eram justapostas para verificar a identidade do portador. O «símbolo da fé» é, pois, um sinal de identificação e de comunhão entre os crentes. «Symbolon» também significa resumo, coletânea ou sumário. O «símbolo da fé» é o sumário das principais verdades da fé. Por isso, serve de ponto de referência primário e fundamental da catequese.
Viver da fé e não apenas dizer a fé

Infelizmente, sabemos que quando se reza o creio, em geral se faz de modo mecânico, rotineiro. É mais um formulário decorado, do que uma experiência vital e decisiva para nós. Dessa maneira, há que se orientar nossos catequizandos para a concretude de nossa fé. Não basta aprender fórmulas universais com os artigos da fé que são necessários para a proclamação pública da fé, mas precisa-se experimentar o valor decisivo que a fé gera em nós. A fé é uma entrega dinâmica diária e confiada em Deus, e não apenas um atestar de Sua existência. Não só creio que Deus existe, mas que Deus existe, vive e me ama e a Ele eu me entrego confiadamente.
Então, a entrega do Símbolo da Fé, significa entregar para o catequizando, o núcleo de nossa fé, a saber: uma história de amor de Deus por todos nós e por toda criação. E essa história tem três partes: Criação (Pai), Salvação (Filho) e Realização (Espírito Santo). Deus Pai é o criador de toda essa maravilha da criação da qual nós fazemos parte. Deus Filho Jesus Cristo, veio nos salvar da perdição que nosso pecado nos fez experimentar, pelo mal uso que fazemos da liberdade. Deus Espírito Santo, que realiza no hoje da vida, tudo aquilo que Deus continua a nos oferecer no seu desígnio de amor e misericórdia para com todos nós.

Ao entregar o Símbolo da fé entregamos uma história de amor de Deus por você e por mim; por todos nós.
Pe. Sidnei Reitz
Assessor da Catequese