No Evangelho de Marcos, Jesus inicia seu ministério dizendo a todos: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Ou seja, antes de anunciar qualquer outra mensagem, antes de anunciar as parábolas e qualquer outro ensinamento ou de fazer qualquer milagre, Jesus anunciou a urgente necessidade da conversão para todas as pessoas.
Na verdade, com Cristo havia chegado o Reino de Deus e, assim, o tempo da intervenção de Deus para a salvação do mundo iria se concluir com sua vida, morte e ressurreição. Depois de Jesus não mais haveria mais profetas a anunciar algo novo, o tempo da Igreja começaria, e com ele a salvação de cada pessoa se definiria pela adesão à pessoa de Cristo e à sua mensagem salvífica, por meio de uma sincera conversão. Assim, a humanidade passou a viver o final dos tempos, que vai da vinda de Jesus até a sua volta para o julgamento do universo e a implantação do Reino definitivo. Converter-nos é, portanto, a coisa mais importante de nossas vidas.
Se pararmos para pensar bem, vamos perceber que o mundo anda quase sempre muito distraído da necessidade de conversão, vivendo as pessoas como se a vida verdadeira e definitiva fosse a vida atual, neste mundo. É fácil constatar como todos correm de um lado para o outro muito preocupados com a saúde, com a profissão e os negócios, com a beleza e as diversões, com o namorar e o casar, com arrumar sua casa e seu carro e tantas coisas, e como deixam para a vida interior e para a busca de Deus, uma pequenina parte do tempo de suas vidas. Uma parte da humanidade se contenta em rezar alguma vez, ir à Igreja de quando em quando, de buscar algum contato com o sagrado; a maior parte, nem com isso se preocupa mais, tratando Deus como uma realidade que existe, mas com a qual não há tempo nem interesse para tratar. Outros ainda acreditam que, se Deus existe mesmo, ele é tão bom que há de salvar a todos, independentemente se o buscaram ou não, se viveram ou não os seus mandamentos como regra de vida. Conversão, para todos estes, é palavra esquecida, desnecessária.
São Paulo afirma em que “viver é Cristo” e que “a nossa vida está escondida com Cristo, em Deus” (Col 3,3-4). Isto significa que Jesus é a vida da nossa vida, e que a nossa vida não existe por si mesma, mas é sustentada por ele. Jesus afirmou que nós, embora estejamos neste mundo não somos deste mundo (Cf. Jo 17,14-15). Ora, tudo isto nos ensina que esta vida é apenas uma preparação para a ver dadeira vida que nos aguarda e que o mundo presente não é senão, o lugar de nossa peregrinação, do nosso aprendizado acerca daquelas coisas que devemos saber e viver para sermos dignos daquela vida que dura para sempre. Assim, o mundo existe não para ser amado ao ponto de prender a nossa alma, mas como uma realidade passageira com a finalidade de ser aproveitado para a nossa salvação, para nos ajudar como meio para nos aproximarmos de Deus.
Converter significa, então, arrepender-se e viver uma vida digna de cidadãos do céu e não da terra, de pessoas que são eternas e não meros mortais a gozar do que puder enquanto viverem porque creem que a vida é passageira e é preciso aproveitar o máximo dela para se divertir e ser feliz a qualquer preço. Converter significa saber ajuntar um tesouro que o tempo não leva, que a traça não rói, que o ladrão não rouba (Cf. Mt 6,19-21 ). Converter é compreender que somos eternos e que não podemos comprometer a eternidade da nossa vida com pecados que mancham a nossa alma, que diminuem a nossa condição de filhos de Deus, que ferem a fraternidade com os irmãos e que fazem a criação gemer com dores que não são de parto, mas de morte (Cf. Rm 8, 22-27). Converter é aprender com Jesus o jeito certo de viver, procurando ter os sentimentos que havia no seu coração e não viver de qualquer jeito, ao sabor de nossos impulsos e desejos muitas vezes tão pouco evangelizados; é saber estender a mão ao pobre, é querer viver a justiça do Reino de Deus.
A Quaresma 2025 faz ecoar aos nossos ouvidos o grito de Jesus: “Convertei-vos! ”. A Campanha da Fraternidade com seu apelo à vivência fraterna a cada ano, nos fala neste ano da “Ecologia Integral”, mostrando a todos, no seu Texto Base, que o planeta da nossa peregrinação, nossa querida Terra, está sendo destruído. O apelo não é somente para uma nova relação com o meio ambiente, mas para uma postura nova de vida, que envolve também nosso relacionamento conosco mesmo, com todas as pessoas e com Deus; de mudar o nosso modo consumista e esgotante de viver. O apelo é abrirmos nossos olhos e coração diante da responsabilidade com a vida e com a terra, a casa comum de todos os seres vivos criados por Deus e que não nos pertence para que a exploremos de modo predatório, a fim de nos servirmos dela sem nenhuma responsabilidade com sua vida. O apelo é que tenhamos consciência de que não estamos longe de decretarmos o fim da existência humana sobre a terra se continuarmos a tratar a obra de Deus de forma tão pecaminosa como o temos feito, consumindo-a para nos satisfazermos, como se não devêssemos nada a ninguém, nem mesmo a Deus, seu criador e verdadeiro dono.
Não fiquemos longe de Cristo, mas ouçamos a sua amorosa e preocupada voz ressoar aos nossos ouvidos: “Convertei-vos, pois o tempo cumpriu-se e o Reino de Deus está próximo! ”
Escrito por: Dom Walter Jorge
Bispo da Diocese de União da Vitória/PR