A Palavra de Deus é o conteúdo e a expressão da própria missão, da qual nós participamos, isto é, a Missão de um Deus que toma a iniciativa de se comunicar conosco de diversos modos (cf. Hb 1,1); outrora aos nossos pais, pelos profetas, cuja palavra continua nos exortando até hoje para vivermos a vida de cordo com os mandamentos do Senhor. Na plenitude dos tempos, Deus falou-nos por meio do seu Filho (cf. Hb 1,2), o enviado do Pai, o Verbo Eterno que veio morar entre nós (cf. Jo 1,14). No mistério da Encarnação, contemplamos a missão salvadora do Verbo que se fez carne, pela ação do Espírito Santo; vem como o enviado do Pai, para realizar as obras do Pai.
O tema proposto é abrangente, pois em toda a Bíblia é possível encontrar fundamentos para uma pastoral missionária, pois cada livro traz em si uma mensagem teológica e espiritual com implicação para a missão da Igreja que é essencialmente evangelizadora.
Antes de tudo, é importante se perguntar o que é missão? A resposta a esta pergunta exige conhecer e compreender a própria missão de Jesus, que depois de sua morte e ressurreição foi confiada à Igreja.
Quando falamos de trabalho pastoral, estamos falando dos diversos serviços que a Igreja organiza para ser presença de Jesus, o Bom Pastor, com o objetivo de evangelizar com palavras e gestos. A cada dia surgem os diversos grupos de associações de fiéis leigos e leigas, os movimentos eclesiais e comunidades de vida apostólica que desenvolvem trabalhos em vista da evangelização. Além disso, hoje ainda temos os influenciadores na internet que se apresentam como evangelizadores.
Nesta perspectiva, o Papa São Paulo VI, na Evangelii Nutiandi, afirmou claramente: “O fato da Igreja ser enviada e mandada para a evangelização do mundo, é uma observação que deveria despertar em nós uma dupla convicção: ‘A primeira é a seguinte: evangelizar não é para quem quer que seja um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à atividade evangelizadora de toda a Igreja. Isto pressupõe, porém, que ele age, não por uma missão pessoal que se atribuísse a si próprio, ou por uma inspiração pessoal, mas em união com a missão da Igreja e em nome da mesma. Donde a segunda convicção: se cada um evangeliza em nome da Igreja, o que ela mesma faz em virtude de um mandato do Senhor, nenhum evangelizador é o senhor absoluto da sua ação evangelizadora, dotado de um poder discricionário para realizar segundo critérios e perspectivas individuais tal obra, mas em comunhão com a Igreja e com os seus Pastores” (EN., n.60).
Diante disso, temos que nos perguntar será que o nosso trabalho pastoral, os movimentos e outros serviços eclesiais têm alcançado o seu objetivo que é evangelizar? Quando assumimos o serviço de evangelização como missão, temos a consciência de que a missão não é nossa, mas é da Igreja e que apenas participamos desta missão?
Enfim, é preciso visitar o Antigo e o Novo Testamento, sem ter a pretensão de esgotar o tema da missão, mas buscando alguns textos e personagens que podem nos inspirar e motivar a nossa ação pastoral, a fim de que ela seja missionária. A parte central da reflexão se volta para a própria missão de Jesus, o missionário do Pai, pois o seu agir missionário deve iluminar a vida e a missão da Igreja, em sua ação pastoral.
Dom Danival Milagres Coelho
Bispo Auxiliar de Goiânia/GO