Por, Prof. Paulo Eduardo de Oliveira, paulo.eduardo.oliveira@hotmail.com
Vivemos tempos de grande perplexidade diante da realidade da família. Em razão da grande libertinagem sexual de nossos dias, pregada aos quatro ventos pelas novelas e outros meios de comunicação, o modelo tradicional de família passa cada vez mais por severas críticas. Dizem os especialistas que hoje podemos encontrar 17 modelos de família! Mais uma vez, o homem está brincando de ser “deus”, como se coubesse a nós mudar livremente o projeto original de Deus sobre a célula familiar.
A disseminação do amor livre, a propaganda da ideologia de gênero, a livre difusão da homossexualidade, a legalização do divórcio na maioria dos países, a legalização dos casamentos homo afetivos, como se tudo isso fosse “absolutamente normal”, faz com que a concepção de família, no modelo tradicional, seja colocada em xeque. Afinal, o que é família? Muitos deixaram de entender que a família é o núcleo humano constituído, naturalmente, pelo pai, pela mãe e pelos filhos. Desse modo, alguns pensam que também pode ser entendido como família o conjunto de dois homens (ou duas mulheres), que vivem juntos, e têm seus filhos (fruto individual de um deles, ou produto das múltiplas formas atuais de concepção artificial), além de outras possibilidades de “combinações” e de “arranjos”, artificialmente construídos, para constituir os multiformes modelos de família.
Como cristãos, obedientes à vontade de Deus, que se manifesta também nas obras da criação, não podemos nos deixar iludir e enganar. Essas caricaturas de família que hoje nos são apresentadas são, sem dúvida, obra do “pai da mentira” (Jo 8,44). Por isso, não podemos perder de vista o desejo original de Deus, o projeto original de Deus sobre a família: é ali que devemos encontrar a única e autêntica identidade da família.
A Exortação Familiaris Consortio, do Papa João Paulo II, chama-nos a atenção para a necessidade de refletirmos sobre a identidade da família e, ao mesmo tempo, para a sua missão. Assim se expressa o Sato Padre: “No plano de Deus Criador e Redentor a família descobre não só a sua «identidade», o que «é», mas também a sua «missão», o que ela pode e deve «fazer»” (Exortação Familiaris Consortio, n. 17). Note-se que o Papa acentua os adjetivos de Deus como “Criador” e como “Redentor” e é a partir destas duas notas peculiares de Deus que deve ser compreendida a família, no seu ser (identidade) e na sua missão (agir). Com efeito, Deus não apenas criou a família e lhe deu uma “identidade”, mas também lhe deu uma “missão”. E a missão que a família recebe de Deus deve inspirar-se na mesma missão Redentora de Cristo, expressa de forma magnífica nessa passagem do Evangelho de São João: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Nesse sentido, pode-se entender que a “missão” que cabe à família só pode ser realizada na mesma medida em que ela conserva a sua “identidade”. Portanto, destruir a identidade dada por Deus à família significa, em decorrência, destruir também a sua missão. Por isso, assim nos ensina o Papa João Paulo II: “As tarefas, que a família é chamada por Deus a desenvolver na história, brotam do seu próprio ser e representam o seu desenvolvimento dinâmico e existencial” (Exortação Familiaris Consortio, n. 17).
E continua o Papa: “Voltar ao «princípio» do gesto criativo de Deus é então uma necessidade para a família, se se quiser conhecer e realizar segundo a verdade interior não só do seu ser mas também do seu agir histórico. E porque, segundo o plano de Deus, é constituída qual «íntima comunidade de vida e de amor»(44), a família tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, comunidade de vida e de amor, numa tensão que, como para cada realidade criada e redimida, encontrará a plenitude no Reino de Deus. E numa perspectiva que atinge as próprias raízes da realidade, deve dizer-se que a essência e os deveres da família são, em última análise, definidos pelo amor. Por isto é-lhe confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, sua esposa” (Exortação Familiaris Consortio, n. 17).
Para o Papa João Paulo II, em sintonia com o Sínodo que inspirou a Familiris Consortio, a missão da família compreende estas quatro grandes tarefas: 1) a formação de uma comunidade de pessoas; 2) o serviço à vida; 3) a participação no desenvolvimento da sociedade; 4) a participação na vida e na missão da Igreja (Exortação Familiaris Consortio, n. 17).
Nos próximos artigos, meditaremos um a um estes quatro pontos fundamentais! Servirão eles para mostrar que a família é pérola preciosa aos olhos de Deus e não pode ser lançada aos porcos (Mt 7,6).