O mundo atual está terrivelmente marcado pela “divisão”: as pessoas, em casa e nas ruas, entre países e raças, e até mesmo entre religiões, vivem a experiência da divisão. A divisão é um dos frutos do pecado. Não sem razão, a palavra grega “diabolos” significa “aquilo que divide”.
O contrário da divisão é a “comunhão”. Ao pé da letra, podemos compreender o sentido de comunhão como “comum união”: é a união que nos torna “um”, um só coração e uma só alma, uma comunidade de irmãos, vivendo em unidade com Deus, o “nosso” Pai.
A mentalidade moderna, especialmente difundida e pregada pelos meios de comunicação, sobretudo pelas novelas e pelo cinema, faz questão de mostrar que a divisão entre as famílias e no coração de cada família é algo que deve ser considerado como um “fenômeno normal”: brigas, discórdias, divórcio, conflitos constantes entre pais e filhos são coisas “absolutamente normais”, que não nos devem assustar nem escandalizar, é o que os novelistas e roteiristas querem nos fazer acreditar.
Como cristãos, devemos ter a coragem de dizer ao mundo que a divisão, nas famílias, é obra do “pai da mentira” e fruto do pecado. O projeto de Deus sobre a família não pode estar assentado com os tijolos da divisão, mas com o cimento forte da comunhão.
Segundo o que nos ensina a Exortação Familiaris Consortio, do Papa João Paulo II, a família é chamada a viver uma profunda experiência de comunhão, que nasce das muitas relações interpessoais que a estrutura familiar nos permite experimentar: “No matrimônio e na família constitui-se um complexo de relações interpessoais – vida conjugal, paternidade-maternidade, filiação, fraternidade – mediante as quais cada pessoa humana é introduzida na «família humana» e na «família de Deus», que é a Igreja” (Exortação Familiaris Consortio, n. 15). Aprender a ser pai e mãe e filhos e irmãos nos ensina, portanto, não apenas a ser membros de uma família na perspectiva “humana”, mas também sob o ângulo da “vida espiritual”. Daí a grandeza do projeto de Deus chamado família.
Por isso, afirma o Papa, “o matrimônio e a família dos cristãos edificam a Igreja: na família, de fato, a pessoa humana não só é gerada e progressivamente introduzida, mediante a educação, na comunidade humana, mas mediante a regeneração do batismo e a educação na fé, é introduzida também na família de Deus, que é a Igreja” (Exortação Familiaris Consortio, n. 15). O papel dos pais é enormemente enriquecido quando tomamos consciência de que eles não geram apenas filhos para o mundo, mas também filhos para Deus. O que eles constroem aqui não é apenas para este mundo, limitado no tempo, mas também para a vida com Deus, na eternidade.
Mas, a vida cristã, também no coração da família, enquanto somos peregrinos nesse mundo, é marcada por aquele dualismo entre pecado e graça, como o próprio São Paulo dizia viver em sua experiência cristã: “Faço o mal que não quero e deixo de fazer o bem que quero” (Rm 7,19). Por isso, não devemos desanimar quando percebemos que também em nossas famílias as marcas do pecado podem se manifestar. Sabemos que, pela obra redentora de Cristo, o pecado não tem a última palavra em nossa vida e também na vida de nossas famílias. Com efeito, como nos ensina o Papa João Paulo II, “a família humana, desagregada pelo pecado, é reconstituída na sua unidade pela força redentora da morte e ressurreição de Cristo (Cf. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 78). O matrimônio cristão, partícipe da eficácia salvífica deste acontecimento, constitui o lugar natural onde se cumpre a inserção da pessoa humana na grande família da Igreja” (Exortação Familiaris Consortio, n. 15).
Para os pais que querem aprofundar a espiritualidade do matrimônio, vale ressaltar que a família por eles constituída, com os filhos que eles mesmos geraram, deve tornar-se um tijolo a mais na construção da Igreja. É isso o que nos ensina a Familiaris Consortio, quando diz: “O mandato de crescer e de multiplicar-se, dirigido desde o princípio ao homem e à mulher, atinge desta maneira a sua plena verdade e a sua integral realização. A Igreja encontra assim na família, nascida do sacramento, o seu berço e o lugar onde pode atuar a própria inserção nas gerações humanas, e estas, reciprocamente, na Igreja” (Exortação Familiaris Consortio, n. 15).
Que estas reflexões ajudem as nossas famílias, cada vez, a viverem em espírito de comunhão, sendo construtoras da Igreja e sinais do Reino de Deus para o mundo.