Uma das celebrações mais marcantes no mês de junho sem dúvida é o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Sendo o padroeiro da Diocese de União da Vitória, este ano ganhou um destaque a mais com a posse do Novo Bispo da Diocese, Dom Agenor Girardi, que também é proveniente da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração (MSC).
Neste espaço iremos conhecermos melhor esta devoção tão especial ao Sagrado Coração de Jesus.
Texto compartilhado por:
Pe. Marcelo S. de Lara
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História:
A revelação bíblica é o melhor alicerce para a devoção do Coração de Cristo. É útil, porém, acrescentar algumas citações dos Santos Padres para saber como essa espiritualidade se desenvolveu na Tradição cristã.
Um grande especialista da devoção ao Coração de Jesus na Idade Média, K. Richstätter, escreveu: “Nos primeiros mil anos do cristianismo, a ideia do Sagrado Coração de Jesus era desconhecida”. Houve muita reação a essa afirmação e vários autores começaram a citar numerosos textos dos Santos Padres. Mais tarde, Hugo Rahner, outro estudioso da devoção, sistematizou essas citações, extraindo da teologia patrística três grandes temas:
- Há um conjunto de textos que se referem a João 7, 37-39. São textos que falam da água viva que nasce do lado de Cristo transpassado na cruz. Há uma fonte que brota do seu Coração.
- Depois aparece uma tradição patrística sobre São João, o discípulo amado, que reclinou a sua cabeça sobre o peito do Senhor (Jo 13, 23-25).
- Finalmente, inúmeros textos patrísticos falam da origem da Igreja que nasce do Cristo transpassado na cruz (Jo 19, 34).
Já sabemos que o texto de (Jo 7,37-39) apresenta um célebre problema de pontuação. A Vulgata (tradução da Bíblia em latim) familiarizou-nos com a leitura segundo a qual o coração do crente se transforma em fonte de água viva. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio (koilia) correrão rios de água viva”.
Hugo Rahner demonstrou que essa leitura tem origem nos escritos de Orígenes e se transmitiu graças a muitos Padres gregos e latinos, especialmente Santo Ambrósio e Santo Agostinho, que influenciaram toda a tradição ocidental. Fazendo uma pesquisa mais aprofundada, Rahner chegou à conclusão de que os Santos Padres gregos mais antigos gostavam de fazer uma outra leitura dessa passagem. Nessa outra interpretação, o Coração do transpassado aparece claramente como a fonte da água viva, como a fonte do Espírito: “Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim. Como diz a escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
Rahner chama a leitura mais antiga de efesina (de Éfeso), em oposição à leitura alexandrina (de Alexandria) de Orígenes. Os representantes da leitura efesina são bem menos numerosos, mas Rahner lhes atribui uma autoridade muito grande e chega a pensar que essa seja realmente a leitura autêntica. É um texto realmente importante para o estudo bíblico e especialmente para a teologia do Coração de Jesus.
Um primeiro testemunho claro para a leitura efesina é Hipólito de Roma, em seu comentário de Daniel 1, 17. Hipólito recebeu a interpretação de Santo Irineu, discípulo de São Policarpo que, por sua vez, conheceu o apóstolo João. Irineu escreve: “Mas o Espírito Santo está em nós, e Ele é aquela água viva que o Senhor oferece a todos os que nele crêem, como Ele manda” (Ad. Haereses, V, 18,2). E escreve, ainda, no mesmo livro: “A Igreja é a fonte da água viva que brota para nós do Coração de Cristo.
Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda a graça. Mas o Espírito é verdade. Aquele que não participa deste Espírito, não receberá nenhum alimento nem vida no seio de nossa Igreja nem pode beber da fonte cristalina que brota do Corpo de Cristo” (ibid. III 24,1).
Padre Francisco Sehnem, (SCJ).
(Especialista na Espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus).
Fonte: http://www.dehonbrasil.com