Por, Paulo Eduardo de Oliveira. paulo.eduardo.oliveira@hotmail.com
Os documentos da Igreja sobre as famílias acenam para a necessidade da conversão. Conversão é um processo constante na vida cristão, uma experiência pessoal que dura a vida toda. Ninguém pode se considerar santo e perfeito enquanto ainda caminha neste mundo. Todos os dias precisamos decididamente voltar as costas ao pecado, para voltarmos os olhos para Deus. Todos os dias precisamos reviver a experiência do filho pródigo, contada em parábola por Jesus (Lc 15,11-32).
Pela influência da mentalidade do mundo, marcada pela inversão de valores, muitas famílias acabaram desviando-se do projeto de Deus e da proposta de seguimento de Jesus Cristo. São batizados que se esqueceram do seu batismo. Vivem como se fossem do mundo, esquecendo-se que pertencem a Deus.
Converter-se é mudar de caminho, seguir por outra rota, desviar-se das trilhas do pecado para seguir o caminho de Cristo. Converter-se é dizer “não” às propostas do mundo, para podermos dizer sim ao convite de Cristo.
Nesse sentido, na Exortação Familiaris Consortio, São João Paulo II assim escreveu: “Todos devemos opor-nos com uma conversão da mente e do coração, seguindo a Cristo Crucificado, no dizer não ao próprio egoísmo, à injustiça originada pelo pecado – profundamente penetrado também nas estruturas do mundo de hoje – e que muitas vezes obsta a família na plena realização de si mesma e dos seus direitos fundamentais. Uma semelhante conversão não poderá deixar de ter influência benéfica e renovadora mesmo sobre as estruturas da sociedade….
…É pedida uma conversão contínua, permanente, que, embora exigindo o afastamento interior de todo o mal e a adesão ao bem na sua plenitude, se atua concretamente em passos que conduzem sempre para além dela. Desenvolve-se assim um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus e das exigências do seu amor definitivo e absoluto em toda a vida pessoal e social do homem. É, por isso, necessário um caminho pedagógico de crescimento, a fim de que os fiéis, as famílias e os povos, antes, a própria civilização, daquilo que já receberam do Mistério de Cristo, possam ser conduzidos pacientemente mais além, atingindo um conhecimento mais rico e uma integração mais plena deste mistério na sua vida” (Exortação Familiaris Consortio, n. 9).
Todos nós precisamos do perdão de Deus! Mas, precisamos também aprender a perdoar. A família é uma escola de amor e, por isso mesmo, torna-se também uma escola de perdão. Como afirmou o Papa Francisco na sua Mensagem para o Encontro das Famílias, em Roma, no ano de 2013: “O matrimônio é uma longa viajem que dura toda a vida, e necessitam da ajuda de Jesus para caminhar juntos, com confiança, para se acolherem, um ao outro todos os dias, e perdoarem-se todos os dias; e isto é importante nas famílias, saberem perdoar-se. Porque todos nós temos defeitos. Todos!”.
As famílias precisam tornar-se cada vez mais uma escola de conversão e de perdão. Cada vez mais é preciso que as famílias se tornem atentas e sensíveis à voz de Cristo que continua a proclamar: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Mc 1,15).
São João Paulo II assim escreveu: “Uma parte essencial e permanente do dever de santificação da família cristã é o acolhimento do apelo evangélico de conversão dirigido a todos os cristãos, que nem sempre permanecem fiéis à ‘novidade’ daquele batismo que os constituiu ‘santos’. A família cristã também nem sempre é coerente com a lei da graça e da santidade batismal, proclamada de novo pelo sacramento do matrimônio. O arrependimento e o mútuo perdão no seio da família cristã, que se revestem de tanta importância na vida quotidiana, encontram o seu momento sacramental específico na Penitência cristã.
Aos cônjuges escrevia assim Paulo VI, na Encíclica Humanae Vitae:
‘Se o pecado os atingir, não desanimem, mas recorram com humilde perseverança à misericórdia de Deus, que com prodigalidade é generosamente dada no sacramento da Penitência’. A celebração deste sacramento dá à vida familiar um significado particular: ao descobrirem pela fé como o pecado contradiz não só a aliança com Deus, mas também a aliança dos cônjuges e a comunhão da família, os esposos e todos os membros da família são conduzidos ao encontro com Deus «rico em misericórdia»(147), o qual, alargando o seu amor que é mais forte do que o pecado(148), reconstrói e aperfeiçoa a aliança conjugal e a comunhão familiar” (Exortação Familiaris Consortio, n. 58).
Rezemos por nossas famílias, pedindo a Deus a graça da conversão. Que a força do mundo não seja em nós mais forte que a graça de Deus. Que nossas famílias sejam um pedaço do céu, vivendo a intimidade com Deus na vivência do amor sincero e generoso.