Por, DOM WALTER JORGE, bispo Diocesano.
Chega ao final o difícil ano de 2020. A humanidade se encontra esgotada e perplexa. Fomos atingidos por uma peste em pleno século XXI. Um duro golpe às nossas pretensões de controle da vida e do mundo. Por pouco não foram ainda mais duras as consequências de tudo isso.
Mas crises podem significar ricas oportunidades para importantes avanços e, acredito, este pensamento deve ser o ponto de partida que a humanidade deve ter diante da atual pandemia, pois do contrário, tanto sofrimento terá sido inútil. As crises sinalizam que as coisas não estavam indo bem e que é preciso mudar os rumos, aproveitando os processos de purificação a que elas conduzem.
A atual crise sinaliza claramente que o modo pelo qual estamos tratando o planeta não está bom, pois a destruição das florestas, entre as muitas consequências que pode ter, revelou desta vez que vamos trazer para perto de nós perigosos microrganismos que antes viviam em equilíbrio e que possuem o potencial para exterminar a vida humana sobre a terra. Então, uma importante lição é que não se pode querer transformar em dinheiro coisas que depois trarão consequências que o dinheiro não poderá resolver.
Deste difícil 2020 também tiramos a duríssima lição de onde nos podem nos conduzir as polarizações, as tristes divisões entre nós, fazendo-nos comprar brigas que não são nossas, levando-nos a defender bandeiras que nos foram atiradas ao colo, sem nos trazer qualquer benefício e nos fazendo lutar por gente que só deseja o seu próprio bem, sem se importar com o bem do povo ou da nação.
Acredito também que para o ano de 2021 teremos que levar reflexões mais amadurecidas sobre o modo como tratamos o ser humano por causa da cor de sua pele, do gênero a que pertence (tantos feminicídios e todo tipo de violência contra as mulheres que vimos este ano), da religião que professa, dos limites que apresenta. Já é tempo de a humanidade acordar para o quanto tudo isto é desumano e detestável.
No novo ano que desponta, precisamos entrar como pessoas um pouco melhores, mais crescidas, mais capazes de defender o bom, o belo, o justo e o verdadeiro; mais capazes de nos posicionarmos a favor de toda a vida, e em especial da vida humana mais fragilizada. E como haverá necessidade deste posicionamento, uma vez que as projeções para os desdobramentos econômicos da pandemia da Covid-19 não são nada favoráveis, especialmente para os que já são os mais sofredores entre nós!
Finalmente, para 2021 será preciso levar um forte desejo de renovação: renovação da alma, da espiritualidade, do comprometimento mais sincero, da esperança, do desejo de promover a vida sobre a terra. O ano de 2020 nos fez ver o quanto estavam fracas nossas bases espirituais, o quanto estávamos fugindo do essencial, correndo atrás de emoções passageiras e ilusórias, num ritmo frenético de diversões, de palavras infundadas, de verdades precárias, sem lastro com a ética e com o bem comunitário. Não poderemos arrastar para o novo ano “carcaças” que não servem mais para nada. Caminhemos, pois, para 2021, cheios de um novo e poderoso alento, uma vez que foi gerado da difícil respiração que nos permitiu 2020.
Que o Natal do Salvador, Senhor que conduz sempre a história, não permitindo que caminhe ao sabor casual dos acontecimentos, torne-se para nós certeza cada vez mais firme de um amor que cuida sempre de todos os seres humanos que nele esperam, nele confiam e a ele se entregam.
Feliz Natal a todos! Abençoado Ano Novo!
Postagem: Setor de Comunicação
Foto Destaque: SJO Artigos Religiosos