A família é um espaço onde os membros de uma coletividade partilham crenças, valores morais, costumes, memórias, dando a seus membros a possibilidade de se sentirem pertencentes àquele lugar, àquela raça. Lugar que de forma simbólica auxilia na construção de uma identidade.
É na família que se aprende, se descobre a importância de se pertencer a um grupo, de partilhar memórias vividas, histórias, contos ditos em dias frios em volta do fogão, em rodas de chimarrão, ou ainda, entre o intervalo de um afazer e outro.
Os dias de domingo quando se reúne a família e quando alguém pergunta como era a vida antigamente se tornam um deleite para os novos e alegrias para os mais velhos que encontram nesse momento a oportunidade de contarem suas histórias, onde se passam receitas, ensinam remédios, partilham alegrias da vida, a dor do sofrimento, sobre confiar, desconfiar e compartilhar.
Essas experiências geram em seus membros um sentimento de pertença. Um espaço importantíssimo para a identidade dos seus. Já o sentimento de não pertencimento é um “não-lugar” espaço esse que pode ser superficial, transitório. É o não se encontrar em lugar algum, ou não se reconhecer pertencente a nenhum grupo, ou à uma família, o que pode gerar na pessoa solidão, vazio. Encontrar um lugar onde se é acolhido, reconhecido, validado, vai possibilitar não só o crescimento pessoal, mas de todo o contexto.
Para que esse lugar seja um espaço que proporcione crescimento, há alguns pontos que precisam ser incentivados, no dia a dia dentro do contexto familiar.
Identificar e compartilhar suas emoções. Parece fácil, mas pode não ser. Então encontrem um momento, pode ser durante a refeição, uma roda de chimarrão para poder partilharem alguma situação ou sentimento. Esse habito de falar sobre o que se sente gera nos filhos segurança para falarem sobre si. Valide o sentimento do outro!
Facilitar a comunicação entre a família. Entende-se comunicação como diálogo, é algo indispensável para uma boa convivência. Muitos mal-entendidos não ocorreriam se as pessoas dialogassem mais.
Ouvir o outro. Muitas vezes a escuta não ocorre, o que se espera é somente o momento de falar, opinar. Treinar e incentivar a escuta é importante, indiferente da idade dos membros da família, pois todos têm algo importante a dizer, compartilhar.
Estimular no outro suas potencialidades. As pessoas têm dificuldades e facilidades, mas ouvir da família o que se tem de melhor é algo gratificante que estimula seguir em frente.
Compartilhar dificuldades. Não é só de bons momentos que se vive. Viver é uma arte, e os pais ou responsáveis precisam ensinar os filhos, através do comportamento e exemplo a como agir e reagir frente as dificuldades, injustiças. Essas atitudes moldam seu caráter.
Comemorar as conquistas. É vibrar, agradecer, rezar, saltitar juntos frente aos resultados, gerando boas lembranças e memórias positivas em família.
Tudo isso, não se trata de uma receita pronta, mas de reflexões sobre o papel do contexto familiar na formação da identidade de seus membros e o quanto o pertencimento gera vínculos afetivos capazes de torná-los resilientes, resistentes às adversidades da vida.
Texto de: Geovana Salete Cordeiro Kujiv
Psicóloga clínica – CRP 08/19042
Terapeuta familiar sistêmica com foco no indivíduo, casal e família.